Loading...

  • 19 Apr, 2025
CLOSE

Se tem uma coisa que me faz ter orgulho de ser brasileiro, é ver como a gente consegue criar do nada. Sério. A gente transforma dificuldade em solução com uma facilidade absurda. E isso não é papo motivacional, não — é constatação. O brasileiro é naturalmente criativo, mas o mais louco é que nem sempre a gente se dá conta disso. Parece que a gente acha que criatividade só existe quando tem palco, prêmio ou diploma. Quando, na real, ela tá no cotidiano, na rua, no meme, na gambiarra que segura a vida.

Quantas vezes você já viu alguém consertar um carro com arame, prender o chinelo com prego, transformar uma garrafa PET em regador? Isso é criatividade na veia. Não é coisa de gente sem recurso. É coisa de mente adaptável, de quem aprende a se virar. E quando isso é levado pro marketing, pra arte, pra tecnologia... a coisa explode. O brasileiro não copia tendência — ele inventa. Ele lança ideia que viraliza no mundo inteiro sem nem perceber que criou algo genial.

O meme é um bom exemplo disso. A gente pega uma tragédia, uma frase solta, uma situação cotidiana... e transforma em viral. Com timing, com edição, com contexto. Ninguém faz isso como a gente. E não é à toa que até grandes marcas do exterior copiam o nosso humor, o nosso estilo. Mas o curioso é: enquanto o mundo vê valor nisso, aqui dentro a gente trata como brincadeira. Como se criatividade popular não fosse tão nobre quanto arte de galeria.

Eu já trabalhei com desenvolvedores, com criadores de conteúdo, com designers... e posso dizer com tranquilidade: a mente brasileira é fora da curva. Mas falta valorização. Falta entender que a criatividade que resolve o problema da esquina é a mesma que pode mudar uma empresa, uma campanha, um país. A gente já tem o dom — só falta acreditar nele.

Você já parou pra pensar no tanto de campanha brasileira que ganha prêmio lá fora? Cannes, Clio, Effie... sempre tem brasileiro no meio. E não é por acaso. A gente tem um jeito único de contar história, de emocionar, de fazer rir e refletir ao mesmo tempo. O problema é que aqui dentro, isso ainda é visto como “jeitinho”, como algo improvisado, amador. Como se o criativo brasileiro fosse bom só quando reconhecido por fora. É como se a gente precisasse de um carimbo gringo pra acreditar no que já somos.

Roberto Belvederesi me contou de uma campanha que viralizou globalmente, feita com orçamento baixíssimo e ideia genial — típica solução brasileira. E sabe o que mais chamou a atenção? Foi a simplicidade com impacto. E isso é a cara do Brasil: gente que faz muito com pouco. Mas mesmo assim, quando se fala em inovação, o foco vai pros Estados Unidos, pra Europa, pro Vale do Silício. E o Brasil, com toda essa potência criativa, continua sendo subestimado até por quem vive aqui.

Olha as nossas favelas, por exemplo. Um ecossistema riquíssimo de soluções criativas: educação com recursos limitados, empreendedores digitais surgindo do nada, marcas nascendo de estéticas próprias, gírias virando identidade visual, arte urbana ganhando o mundo. Mas na visão elitista, isso tudo ainda é marginalizado. E isso é uma perda cultural enorme. Porque onde tem necessidade, tem criatividade. E o Brasil é um país que, infelizmente, aprendeu a viver com muita necessidade — e transformou isso em arte.

Mas criatividade não é só um dom que a gente tem. É um ativo que a gente devia proteger, ensinar, explorar com responsabilidade. A gente forma criadores geniais todos os dias — mas também forma um sistema que desvaloriza esses criadores. Que paga mal, que não investe, que não capacita. Que exige portfólio e diploma, mas não enxerga talento. E isso precisa mudar. Porque enquanto isso acontece, o mundo tá de olho. E muitas vezes, quem valoriza a gente... é quem tá lá fora.

O brasileiro é criativo não porque quer ser — mas porque precisa ser. Isso é uma verdade que carrego comigo. A gente aprendeu a criar por sobrevivência, por urgência, por falta de opção. E, no processo, acabamos criando coisas incríveis. Mas já passou da hora de parar de ver isso como recurso de última instância. A criatividade brasileira precisa ser tratada como uma identidade, uma força, uma marca registrada. Algo pra se investir, ensinar e exportar com orgulho.

Imagina o que a gente poderia fazer se tivesse estrutura? Se todo talento criativo do Brasil tivesse acesso à tecnologia, à educação de qualidade, a ambientes colaborativos? A gente já cria muito com pouco — imagina com apoio? É isso que me move. Ver a mente criativa brasileira sendo reconhecida aqui dentro, não só quando sai do país. Ver o jovem da periferia sendo valorizado por sua ideia antes que ele vire estatística. Ver a mulher preta que bomba nas redes tendo a mesma chance que os grandes criadores de agência.

E se eu escrevo tudo isso aqui no RingNews, é porque acredito que o primeiro passo é reconhecer. Parar de achar que criatividade é “coisa de gringo”, ou que inovação só acontece no exterior. Inovação acontece aqui, no bar da esquina, na sala de aula improvisada, no TikTok viral, na arte de rua que diz mais do que muito artigo acadêmico. O Brasil já é criativo. Só falta o Brasil saber disso.

Então fica aqui meu convite: vamos parar de subestimar nossa própria genialidade. Vamos olhar pro nosso povo com mais admiração e menos julgamento. Vamos transformar a criatividade em política pública, em estratégia, em projeto de futuro. Porque quando a gente parar de tentar copiar o mundo, talvez o mundo comece a copiar a gente. E com razão.