Loading...

  • 19 Apr, 2025
CLOSE

Esses dias me peguei fazendo algo automático: abri o Instagram, dei umas curtidas, rolei o feed por uns minutos — e quando percebi, nem sabia mais o que estava procurando. E foi nesse momento que me veio um estalo: será que a gente tá mesmo fazendo o que quer? Ou só tá ocupado demais pra perceber que não tá escolhendo nada? Essa pergunta ficou ecoando na minha cabeça. Porque a gente fala tanto sobre liberdade, mas talvez estejamos apenas distraídos — ocupando nosso tempo com tudo, menos com o que realmente importa.

A internet nos deu acesso ao mundo inteiro na palma da mão. Podemos ver tudo, ouvir tudo, conversar com qualquer pessoa, a qualquer hora. Parece liberdade, né? Mas o que acontece quando essa liberdade vira compulsão? Quando a gente acorda e já corre pra ver notificação, quando qualquer segundo de silêncio é preenchido com um vídeo, uma música, uma timeline infinita? A gente não aguenta mais ficar só com a própria presença. Parece que o vazio virou inimigo — e o excesso virou conforto.

Eu já me peguei preso nisso. Acreditando que estava informado, conectado, atualizado... quando, na real, só estava distraído até a alma. Não conseguia ler um parágrafo inteiro sem trocar de aba. Não conseguia ver um episódio de série sem mexer no celular. Não conseguia caminhar em silêncio sem colocar um fone. E olha que eu sempre fui do time multitarefa. Mas aí comecei a perceber que ser multitarefa não é liberdade — é exaustão disfarçada.

Liberdade de verdade tem a ver com escolha. Com consciência. Com conseguir parar e ainda assim estar bem. Mas o que mais vejo hoje são pessoas correndo de um estímulo pro outro, achando que estão vivendo intensamente, quando estão só evitando a própria cabeça. E isso é triste. Porque tem muita gente achando que tá no controle — quando na verdade tá sendo levado. Pelo algoritmo, pela agenda, pela ansiedade de não “ficar pra trás”. Mas ficar onde, exatamente?

A real é que estamos todos viciados — só que ninguém quer admitir. Porque esse vício não vem em pílula nem em pó. Ele vem em forma de notificações, stories, playlists automáticas, vídeos de 15 segundos. É o vício da distração. E ele é perigoso justamente por parecer inofensivo. A gente acha que tá só “passando o tempo”, mas, no fundo, tá se afastando cada vez mais de si mesmo. É como se a gente tivesse criado uma camada de ruído constante entre nós e a realidade.

Eu percebo isso em mim quando deixo de ouvir uma ideia que brota no silêncio só porque tô preso no barulho da timeline. Quando deixo de refletir sobre algo que me incomodou porque troquei por um vídeo engraçado. Quando deixo de ter uma conversa real porque tô mais preocupado em responder uma mensagem qualquer. A distração virou mecanismo de fuga — e a gente nem percebe que tá fugindo. Fugindo do tédio, da dor, das perguntas difíceis. Fugindo de si mesmo.

E o mais doido é que essa distração coletiva virou um novo normal. Se você decide se desconectar, as pessoas te estranham. Se você some das redes por uma semana, acham que você tá com problema. Se você diz que prefere ficar em silêncio, parece que tá sendo mal-educado. A gente normalizou uma rotina acelerada, ruidosa, hiperestimulada. E quem tenta desacelerar, quase sempre se sente excluído. Mas isso só mostra o quanto estamos todos presos — e nem percebemos.

A pergunta que não sai da minha cabeça é: se tirassem o celular da minha mão por 48 horas, quem eu seria? O que eu faria com o tempo? O que restaria de mim sem o barulho, sem a distração, sem o algoritmo dizendo o que pensar, ver ou desejar? É nessas horas que a gente começa a entender que a verdadeira liberdade não tá em ter acesso a tudo — mas em saber dizer “não” pro que nos tira do eixo. E, hoje, isso é mais difícil do que parece.

A liberdade que me interessa hoje não é a de abrir qualquer aplicativo a qualquer hora. É a de escolher ficar em silêncio. De não responder na hora. De deixar o celular em outro cômodo e não sentir angústia. É a de sentar com uma xícara de café e não fazer absolutamente nada por alguns minutos, sem culpa. Parece simples, mas hoje em dia, isso é um ato revolucionário. Porque nos ensinaram que tempo livre é tempo desperdiçado — quando, na verdade, é no tempo livre que a gente se encontra.

Eu tô aprendendo, devagar, a voltar pra mim. Tô aprendendo a identificar o que me prende, mesmo quando parece liberdade. Tô reaprendendo a me concentrar, a ter uma conversa sem espiar a tela, a caminhar sem fone de ouvido, a almoçar prestando atenção na comida. Tô falhando às vezes? Com certeza. Mas só de estar tentando, já sinto que tô retomando algo que perdi — ou talvez algo que nunca ensinaram a gente a valorizar: a presença.

Porque viver distraído é viver longe. Longe dos outros, longe das ideias, longe de si. E a gente não precisa disso. A gente precisa de pausa. De respiro. De espaço pra refletir. Precisa de tempo pra sentir as coisas de verdade, sem medo de perder o “next post”. A vida não é feed. A vida não é notificação. A vida é o que acontece quando a gente decide estar inteiro no agora — sem filtro, sem algoritmo, sem distração.

Então, se você chegou até aqui nesse artigo, eu te deixo uma pergunta sincera, que me faço quase todo dia: você tá fazendo suas escolhas ou só tá seguindo o fluxo? Porque se a gente não parar pra se perguntar isso, vamos continuar achando que estamos livres… quando, na verdade, estamos só ocupados demais pra perceber a prisão.