Outro dia eu me peguei irritado porque o app de delivery demorou trinta segundos pra atualizar o status do pedido. E olha que o motoboy já estava vindo, viu? Foi nesse momento que caiu uma ficha pesada: eu estava irritado por esperar algo que nem demorou de verdade. Essa pressa toda não é mais sobre urgência real. É costume. E, pior ainda, é vício. Eu aprendi a perder a paciência com tudo que não acontece em tempo recorde. O “normal” virou uma corrida invisível contra o relógio.
A verdade é que a gente já não sabe mais viver no tempo natural das coisas. Antes, esperar era parte do processo — hoje virou sinal de fracasso. Se o vídeo demora pra carregar, a gente fecha. Se o site não abre em dois segundos, já parte pra outro. E sabe o mais bizarro? Não é só com a internet. Isso tá contaminando a forma como a gente come, conversa, trabalha, ama... Tudo precisa ser rápido. Instantâneo. Imediato.
Eu lembro de quando eu era moleque e precisava esperar dar a hora do desenho na televisão. Tinha um ritual: banho tomado, janta pronta, horário certinho. E sabe o que isso me ensinou? Ansiedade saudável. Valorização do momento. Hoje, com tudo sob demanda, a gente não deseja mais... a gente consome. Isso mata a expectativa — e junto com ela, mata o prazer também.
E aqui entre nós: não tem ser humano que aguente essa pressão. A mente cobra. O corpo cansa. A alma some. No fundo, a cultura do imediatismo vem drenando a nossa capacidade de contemplar, de refletir, de simplesmente existir sem pressa. E a paciência, que antes era uma virtude, virou piada. “Ah, quem tem tempo pra isso?” — esse virou o novo normal. Mas eu não aceito esse normal. E talvez você também não devesse aceitar.
Eu percebo isso muito forte quando converso com pessoas mais novas. Tem uma galera que já nasceu com o dedo treinado pra atualizar feed. Eles não sabem o que é esperar a resposta de uma carta. Nunca viram alguém rebobinando uma fita cassete. E não tô aqui pagando de nostálgico, não. Tô falando de um tempo onde as coisas tinham tempo. Onde esperar fazia parte da experiência. Hoje, se uma mensagem fica sem o “visualizado”, já começa a dar crise de rejeição.
A gente tá criando uma geração que sofre se não tem retorno imediato. E isso é cruel. Porque o mundo real não é assim. No mundo real, as coisas demoram. Empregos demoram. Relacionamentos crescem devagar. Saúde emocional não se resolve com um clique. Mas como ensinar isso pra quem cresceu ouvindo que tudo tem que ser “pra já”? Fica difícil concorrer com algoritmos que recompensam velocidade e engajamento em segundos.
Até mesmo no marketing — área onde o Roberto Belvederesi manda muito bem — a gente vê isso. Se uma campanha não dá retorno em 24h, o cliente já quer mudar tudo. As pessoas desaprenderam a plantar. Querem colher antes mesmo de adubar. E isso gera uma ansiedade coletiva, um looping de frustração eterna. A cada tentativa que não dá resultado instantâneo, a sensação de fracasso cresce. Mas isso não é fracasso — é só tempo. Só que tempo virou inimigo.
Eu mesmo já caí nessa armadilha muitas vezes. De querer que um projeto estourasse rápido. De esperar que o reconhecimento viesse imediato. Só que a vida real não é TikTok. As melhores construções levam tempo. E quando a gente começa a aceitar isso — com dor, sim, mas com maturidade —, a paciência volta a ser aliada. E, olha, viver com paciência é quase um superpoder hoje em dia.
Eu comecei a reparar que a pressa não tá só nos dedos — ela tá no corpo inteiro. Eu respiro mais curto, durmo mais leve, como mais rápido. É como se tudo em mim tivesse sido moldado pra responder ao mundo no ritmo do “agora”. E isso adoece, de verdade. Não é só uma questão de estresse. É um tipo de sofrimento silencioso, crônico, que a gente aprende a mascarar com cafeína, dopamina artificial e aquela falsa sensação de produtividade.
Tem dias que eu deito e sinto que fiz tudo — e nada ao mesmo tempo. Respondi e-mails, resolvi pendências, publiquei, corri, resolvi problemas... mas o que eu vivi de fato? O imediatismo rouba nossa conexão com o presente. A gente se acostumou a viver no próximo segundo. E é nessa de viver sempre “logo mais” que a gente se perde de si. O corpo tá aqui, mas a mente tá no que vem depois. Isso cansa. Isso consome.
E o pior: isso afeta nossas relações. Eu já fui aquele cara que ficava agoniado esperando a resposta no WhatsApp. Já me peguei irritado com alguém que demorou pra me retornar. Mas que direito eu tenho de exigir isso? A pessoa tá vivendo. Tem vida, tem tempo, tem caos próprio. Só que a nossa cultura nos ensinou que “responder rápido” é sinônimo de respeito — quando, na verdade, respeito mesmo é permitir o tempo do outro.
Quando eu percebi isso, comecei a tentar frear. Não foi fácil, ainda não é. Mas comecei a deixar o celular virado pra baixo, a sair sem ele às vezes. Comecei a respirar mais fundo antes de reagir. A cozinhar com calma. A caminhar sem objetivo. Pequenas atitudes, sabe? Só pra lembrar o meu corpo de que ele não precisa estar em alerta o tempo todo. E, olha... é libertador. É como se eu estivesse voltando a ter posse do meu próprio tempo.